Menos tela, mais conexão: o impacto da proibição do celular na escola
- Vanda Moura
- 2 de abr.
- 4 min de leitura
O impacto do uso excessivo de celulares por crianças e adolescentes voltou ao centro do debate com a recente série Adolescência, da Netflix, que escancara os efeitos da hiperconexão na saúde mental e no comportamento dos jovens. Mas essa discussão está longe de ser novidade.
No Brasil, o movimento Desconecta já vinha, há alguns anos, alertando pais e educadores sobre os riscos da exposição precoce às telas. A orientação é clara: evitar o uso de smartphones antes dos 14 anos e restringir o acesso às redes sociais até os 16.
Os dados do SUS reforçam a preocupação — pela primeira vez, a ansiedade infantil superou a dos adultos, e o uso excessivo de telas é apontado como um dos fatores mais relevantes.
Diante desse cenário, escolas, famílias e especialistas buscam um caminho mais equilibrado entre tecnologia e bem-estar, sem abrir mão da inovação, mas colocando o foco de volta onde ele deve estar: nas relações humanas, na saúde emocional e no aprendizado verdadeiro.
Uma Lei que reforça um movimento necessário
No início de 2025, o Brasil oficializou sua posição sobre o uso excessivo de tecnologia nas escolas com a sanção da Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos portáteis durante as aulas, recreios e intervalos nas instituições de ensino básico, públicas e privadas.
A nova legislação prevê exceções apenas para fins pedagógicos, acessibilidade, inclusão ou necessidades de saúde, sempre com acompanhamento dos profissionais da educação.
Mais do que uma regra, a lei representa um reconhecimento formal de que o ambiente escolar precisa ser preservado como um espaço de atenção, convivência e desenvolvimento integral — onde o uso da tecnologia deve ter propósito claro e educativo, sem comprometer a saúde mental ou o foco dos estudantes.
Antes da Lei, a proibição do celular já era uma escolha nossa
Muito antes da sanção da nova lei, a Escola Primeiro Passo e o Colégio Grande Passo já haviam percebido a necessidade urgente de repensar o uso de celulares no ambiente escolar. Desde outubro de 2024, adotamos a proibição do uso de celulares durante todo o período letivo, incluindo os intervalos e momentos de recreação.
Essa decisão partiu da nossa escuta ativa das famílias, da observação cotidiana e do compromisso pedagógico com o bem-estar e o aprendizado dos nossos alunos. A medida foi comunicada de forma transparente à comunidade escolar e acolhida com maturidade por pais, alunos e equipe pedagógica.
E os resultados não demoraram a aparecer: melhor concentração nas aulas, mais interação entre os alunos nos intervalos, aumento do engajamento nas atividades e uma melhoria perceptível no clima escolar.
Ao deixar os celulares de lado, nossos estudantes redescobriram o valor das conversas, das brincadeiras coletivas e da presença plena no ambiente de aprendizagem.
Conectados com o mundo, mas com intencionalidade
Na Escola Primeiro Passo e no Colégio Grande Passo, entendemos que formar alunos preparados para o futuro não significa isolá-los da tecnologia — mas sim ensinar a usá-la de forma consciente, ética e produtiva.
A proibição do uso indiscriminado de celulares não nos distancia do mundo atual. Pelo contrário: reforça nosso compromisso com um uso qualificado e intencional das ferramentas digitais.
A tecnologia continua presente no nosso dia a dia pedagógico por meio de plataformas como Matific e Educacross, que tornam o aprendizado mais lúdico, interativo e eficaz. Além disso, contamos com o suporte da Plataforma PAR, que oferece uma solução completa para o acompanhamento do desempenho acadêmico, com avaliações digitais personalizadas, relatórios detalhados e uma abordagem orientada ao desenvolvimento integral dos alunos.
Quando necessário, o uso do celular pode ser autorizado em sala de aula, sempre com uma finalidade pedagógica definida e sob o monitoramento dos professores. Mais do que restringir, nossa proposta é ensinar o uso responsável e produtivo dessas tecnologias.
Como parte dessa formação, o Ensino Fundamental II conta com a disciplina de Educação Digital e Atualidades, que promove reflexões sobre o uso das redes sociais, segurança digital, cidadania online e os impactos das novas tecnologias no cotidiano. O objetivo é empoderar nossos alunos para que sejam não apenas consumidores, mas protagonistas no mundo digital.
A parceria com a família é essencial
Nenhuma mudança significativa na educação acontece de forma isolada. Por isso, na Escola Primeiro Passo e no Colégio Grande Passo, valorizamos profundamente a aliança entre escola e família — especialmente quando se trata de temas tão presentes no dia a dia das crianças e adolescentes, como o uso da tecnologia.
A decisão de restringir o uso de celulares foi construída com diálogo e escuta. Muitos pais relataram preocupações semelhantes: dificuldade de concentração dos filhos, exposição a conteúdos inapropriados, e a sensação de que os momentos de convivência estavam sendo tomados pelas telas. Ao mesmo tempo, manifestaram o desejo de manter o contato com os filhos durante o dia — o que seguimos permitindo por meio da mediação da escola, quando necessário.
Essa parceria é fundamental para garantir coerência entre o ambiente escolar e o familiar. Estabelecer regras claras em casa, incentivar atividades offline, promover conversas sobre o uso consciente das redes sociais e dar o exemplo no cotidiano são atitudes que reforçam e ampliam o impacto positivo da política adotada pela escola.
Mais do que impor limites, queremos formar, junto às famílias, uma nova geração de alunos que saibam fazer escolhas saudáveis, administrar o tempo com autonomia e se relacionar com a tecnologia de forma crítica, equilibrada e responsável.
Menos tela, mais conexão: um caminho que dá certo
Na Escola Primeiro Passo e no Colégio Grande Passo, acreditamos que a verdadeira inovação na educação está no equilíbrio. Ao restringir o uso de celulares no ambiente escolar e, ao mesmo tempo, investir em tecnologias educacionais com propósito, criamos um espaço onde o aprendizado ganha foco, as relações se fortalecem e o desenvolvimento emocional é valorizado.
Estamos formando alunos preparados para o mundo digital — mas também conscientes, críticos e conectados com o que realmente importa: o conhecimento, as pessoas e o próprio bem-estar. Porque educar, para nós, é muito mais do que ensinar conteúdos. É preparar para a vida.
E é por isso que seguimos firmes em nossa missão: promover uma educação que transforma, que cuida e que forma seres humanos completos, em sintonia com os desafios e possibilidades do presente e do futuro.
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